terça-feira, 28 de abril de 2015

VOZ DE FORA


Como da copa verde uma folha caída
Treme e deriva à flor do arroio fugidio,
Deixa-te assim também derivar pela vida,
Que é como um largo, ondeante e misterioso rio...

Até que te surpreenda a carne dolorida
Aquela sensação final de eterno frio,
Abre-te à luz do sol que à alegria convida,
E enche de canções, ó coração vazio!

A asa do vento esflora as camélias e as rosas.
Toda a paisagem canta. E das moitas cheirosas
O aroma dos mirtais sobe nos céus escampos.

Vai beber o pleno ar... E enquanto lá repousas,
Esquece as mágoas vãs na poesia dos campos
E deixa transfundir-te, alma, na alma das cousas.

Manuel Bandeira

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