quinta-feira, 18 de outubro de 2012


Desilusão


Jenario de Fátima

Quando amamos alguém intensamente.
E este amor é tudo o que nos importa,
Deste amor vem a luz que nos conforta
E a força que nos faz sentir mais gente.

E mesmo quando inesperadamente
Uma dificuldade nos aporta,
Da força deste amor se abre a porta
Pra que a paz retorne novamente.

Porem se alguma coisa é descoberta...
Algo que se escondeu, não foi contado,
Sentindo-se traído, o peito alerta

Perde-se ao sentimento que ali gera.
E o amor que era tão terno e delicado
...Não volta mais a ser o que antes era...


DESPERDÍCIO
Jenário de Fátima


Como é doido tanto amor no peito.
Guardado a espera de que alguém o queira.
Preso, estocado pela vida inteira
Armazenado sem nenhum proveito.

Porque será que é sempre deste jeito?
Porque será que justo quem mais ama,
Quem tem o amor como uma ardente chama
Nunca usufrui o que é seu por direito?

Porque será que a vida não dá chances
A quem procura tão somente as cenas
D'algum amor igual ao dos romances?

Sei não... Só sei que isso tudo finda um dia,
Ao ver que amor assim existe apenas
Nas rimas que um poeta fantasia!

Desforra


Jenario de Fátima


Se despertar o interesse de alguém
Apenas só pra engrandecer o ego
E depois o olhar tornar-se cego
A quem por certo só vai querer bem

Se dizer um “eu te amo” tão porem
Pra das palavras fazer-se emprego,
De um falso querer, de um falso apego
De uma tola ilusão e mais nada alem

Quando se age assim desta maneira,
-E somente estupidez a isso chama-
Se esconde entremeio a brincadeira

Algo bem pior do que se pensa;
- Pois ao não ter pra si quem tanto ama
Na dor que vem dos outros se compensa...
Livro do meu amor, do teu amor,
Livro do nosso amor, do nosso peito...
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.
Olha que eu outro já não sei compor
Mais santamente triste, mais perfeito.
Não esfolhes os lírios com que é feito
Que outros não tenho em meu jardim de dor!
Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos só nossos mas que lindos sois!
Ah! meu Amor! Mas quanta, quanta gente
Dirá, fechando o livro docemente:
"Versos só nossos, só de nós os dois!..."

(Florbela Espanca)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

    CRENÇA
Jenário de Fátima

Se achegue...se aconchegue...vem pra perto
Não precisas me tocar, caso não queiras
Só deixe se espalhar na casa inteira
O cheiro desse teu perfume incerto

Lá fora está tão frio, tão deserto
Nas brumas da neblina costumeira
Se esconde uma cidade prisioneira
Que a mão do Minuano a tem coberto

Me basta tão somente tua presença
Pois isso faz crescer a minha crença
Que a fé que trago em mim é verdadeira...

A fé que serás minha um certo dia
Enquanto isso ouça que melodia
É o crepitar das brasas da lareira