Meu epitáfio Cora Coralina
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Quando bate a inspiração, Jenário rapidamente pega o bloco. Na falta deste, digita no celular a nova ideia |
Há quatro anos, começou a frequentar a internet. Entrou em salas de bate papo e fez amigos “intelectuais”, professores de várias universidades federais e estaduais do Brasil a fora e poetas profissionais. “Eles começaram a colocar meus sonetos em blogs, Orkut e tudo mais. Quando eu vi, já tinha até admiradores”, orgulha-se. Os amigos virtuais o ajudaram com a gramática e se encantaram com seus poemas super-românticos. São mais de 300. “Só gosto de uns 30. Eu falo muito de amor e desamor. Acho que o desamor agrada mais os leitores. Os mais velhos costumam se identificar mais com os meus sonetos. Acho que esse tipo de poesia está fora de moda e eu nasci na época errada.”
Estrela
Ele é quase uma celebridade na internet. Com direito a comunidade de fãs no Orkut, com mais de 1,3 mil participantes. Tem ainda vídeos com as letras de suas poesias acompanhadas de fundos musicais no YouTube que contam com 200 mil acessos. Os links que trazem o nome de Jenário de Fátima no Google chegam a quase 80 mil. Jenário já teve inclusive poesias traduzidas para mandarim, inglês e espanhol, segundo ele mesmo, sem possibilidade de confirmar a informação.
Também faz música. Suas canções foram gravadas por algumas bandas locais. Teve poemas reproduzidos em jornais e revistas de circulação nacional. Mas nunca escreveu um livro. “Tenho medo de não ser poeta de verdade. Tenho medo de escrever para ninguém ler. Por isso nunca corri atrás disso.” Ainda hoje, os vizinhos não o conhecem. A família não lê suas poesias. “É todo mundo de origem muito simples, pouca gente lá em casa gosta.” Jenário é casado há 30 anos, tem duas filhas — Cora, em homenagem a Cora Coralina, e Maria Luísa — e uma neta, Yasmin, 2 anos, que nem imagina que o carinhoso vovô é poeta.
O motivo de tanta atenção no mundo virtual são os sonetos escritos pelo poeta. “Poeta, eu?”, pergunta Jenário, todo acanhado. “Sim, Jenário, você”, dizem os admiradores. Elogio ao qual Jenário responde assim: “A poesia me compensa. É uma fuga das dificuldades da vida. Nasci poeta, só pode ser”. Simples assim. Jenário gosta de Mário Quintana, um arquiteto de versos da simplicidade e da beleza. Também viaja na poesia de Augusto dos Anjos, porta-voz da escuridão. Talvez porque ele mesmo tenha dentro de si de sentimentos ambíguos ou, quem sabe, complementares.
Começo
O homem magro, de estatura mediana, cabelos brancos e desgrenhados carrega no rosto um sorriso simpático, mas castigado. Começou recentemente um tratamento dentário e por enquanto evita sorrir. São marcas da vida. Ele tomou gosto pela poesia há cinco anos, quando tinha 50. Leu em um jornal amarelado, que encontrou com um empurrão do destino, o soneto Anjo enfermo, de Afonso Celso, poeta mineiro nascido em 1860. O poema dizia: “Geme no berço, enferma, a criancinha, que não fala, não anda e já padece... Penas assim cruéis, por que as merece quem mal entrando na existência vinha?! O melindroso ser, a filha minha…Como te aperta a angústia o frágil peito… Se viu morrer Jesus, quando homem feito, nunca teve uma filha pequenina!...”.
Jenário ficou chocado. Extasiado. Apaixonou-se. “A poesia tem dessas coisas. É esse o encanto.” Depois disso, quis saber se conseguiria fazer algo parecido. Optou por criar apenas sonetos. “Não fui eu que escolhi fazer soneto, foi o soneto que me escolheu”, explicou. Antes disso, só escrevia letras e melodias de música. Também toca alguns instrumentos.
Aprendeu tudo sozinho ou com a vida. Antes disso, tentou ser empresário. Tinha uma pequena firma de construção. “Mas eu gastei demais e o negócio faliu.” Depois da falência, Jenário se refugiou nos poemas, o único tesouro que restou. “A tristeza ajuda o poeta. Quando fico assim, saem os melhores poemas”, acredita. “Dia desses me perguntaram por que eu não escrevia muito antes. Aí eu contei a história da empresa, estava sempre ocupado. Uma menina me disse: ‘Que bom que sua firma não deu certo’. Esse tipo de elogio me faz acreditar em mim.” Dia desses, uma amiga disse a Jenário: “Seus dias de anonimato estão contados”. Há também quem duvide do talento de Jenário. Para esses, ele diz, citando Mário Quintana, um de seus ídolos: “Eles passarão, eu passarinho”.
Métrica poética
Um soneto deve ser curto. Pode ter 14 versos divididos em dois quartetos (grupos de quatro versos) e dois tercetos (três versos) ou ainda três quartetos e um dístico (dois versos).
Os versos devem possuir a mesma métrica, ou seja, o mesmo número de sílabas poéticas, que são totalmente diferentes de uma sílaba comum.
terça-feira, 5 de março de 2013
DEPENDÊNCIA
Jenário de Fátima
Meu coração é qual grande deserto
Que tanto faz calor, tanto faz frio
Que tanto está fechado ou tanto aberto
Que tanto está amável ou está bravio
Ele ora está distante, ora está perto
Ele ora está constante, ora erradio
Ele ora está confuso, ora está certo
Ele ora se transborda, ou está vazio
E meio a todas estas metamorfoses
Meu coração se acalma ou se agita
Como um doente a depender de doses
De doses de alegrias e tristezas
Doses de convicções e incertezas
Daquela que lhe mora...Que lhe habita!
Jenário de Fátima
Meu coração é qual grande deserto
Que tanto faz calor, tanto faz frio
Que tanto está fechado ou tanto aberto
Que tanto está amável ou está bravio
Ele ora está distante, ora está perto
Ele ora está constante, ora erradio
Ele ora está confuso, ora está certo
Ele ora se transborda, ou está vazio
E meio a todas estas metamorfoses
Meu coração se acalma ou se agita
Como um doente a depender de doses
De doses de alegrias e tristezas
Doses de convicções e incertezas
Daquela que lhe mora...Que lhe habita!
segunda-feira, 4 de março de 2013
Sonetos ao pai Augusto dos Anjos
A meu Pai doente
Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas...
Tu, para amenizar as dores tuas,
Eu, para amenizar as minhas dores!
Que cousa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!
Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria,
Indiferente aos mil tormentos teus
De assim magoar-te sem pesar havia?!
— Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim
É bom, é justo, e sendo justo, Deus,
Deus não havia de magoar-te assim!
A meu Pai doente
Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas...
Tu, para amenizar as dores tuas,
Eu, para amenizar as minhas dores!
Que cousa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!
Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria,
Indiferente aos mil tormentos teus
De assim magoar-te sem pesar havia?!
— Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim
É bom, é justo, e sendo justo, Deus,
Deus não havia de magoar-te assim!
domingo, 3 de março de 2013
Páginas em branco
Tudo aquilo o que nos sempre vivemos,
Pelos rumos que tomaram nossas vidas,
Nas noites de insônia, mal dormidas
Na quebra das promessas que fizemos,
No rosto dos amigos que perdemos,
Nas canções que ouvimos repetidas
No gosto das tristezas escondidas
De amores de que nunca esquecemos.
Tudo isso faz parte de nossa história.
Historia que escrevemos dia a dia
Editadas em um livro na memória.
E a minha, pra lhe ser sincero e franco,
Dá-me um aperto, uma angustia e agonia
Quando olho tantas paginas em branco
Jenario de Fátima
Tudo aquilo o que nos sempre vivemos,
Pelos rumos que tomaram nossas vidas,
Nas noites de insônia, mal dormidas
Na quebra das promessas que fizemos,
No rosto dos amigos que perdemos,
Nas canções que ouvimos repetidas
No gosto das tristezas escondidas
De amores de que nunca esquecemos.
Tudo isso faz parte de nossa história.
Historia que escrevemos dia a dia
Editadas em um livro na memória.
E a minha, pra lhe ser sincero e franco,
Dá-me um aperto, uma angustia e agonia
Quando olho tantas paginas em branco
Jenario de Fátima
sexta-feira, 1 de março de 2013
Mas era apenas isso,
era isso, mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?
E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?
Isso, ou menos que isso
uma noção de porta,
o projeto de abri-la
sem haver outro lado?
O projeto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?
Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?
Carlos Drummond de Andrade,
era isso, mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?
E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?
Isso, ou menos que isso
uma noção de porta,
o projeto de abri-la
sem haver outro lado?
O projeto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?
Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?
Carlos Drummond de Andrade,
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
A DANÇA
"Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho."
(Pablo Neruda)
"Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho."
(Pablo Neruda)
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
DEPOIS DA TEMPESTADE
Meio dia... Uma da tarde... Tempo quente...
As nuvens se avolumam, se amontoam,
Raios riscam os céus e trovões troam,
A tempestade faz-se de repente.
Mas logo a chuva cessa... águas correntes
Se escoam pelos ralos que as escoam,
O sol reaparece e as nuvens voam...
Deixando um arco-íris de presente.
A vida é feita assim... a natureza,
Alterna-se entre risos e tristeza,
Se faz por entre bens e dissabores...
Estou vivendo em plena tempestade,
Porém quero ganhar, no fim da tarde,
O encanto do meu arco-íris de mil cores!
Jenario de Fatima
Meio dia... Uma da tarde... Tempo quente...
As nuvens se avolumam, se amontoam,
Raios riscam os céus e trovões troam,
A tempestade faz-se de repente.
Mas logo a chuva cessa... águas correntes
Se escoam pelos ralos que as escoam,
O sol reaparece e as nuvens voam...
Deixando um arco-íris de presente.
A vida é feita assim... a natureza,
Alterna-se entre risos e tristeza,
Se faz por entre bens e dissabores...
Estou vivendo em plena tempestade,
Porém quero ganhar, no fim da tarde,
O encanto do meu arco-íris de mil cores!
Jenario de Fatima
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